24 de jan. de 2010

A mulher da estrada 2/3

Eles se entreolharam apreensivos, usando uma linguagem subverbal e ocular para que o velho não entendesse o que tentavam dizer apenas um para o outro, apesar de tal esforço não se aparentar necessário, pois o sujeito parecia não escutar suas palavras.
Decidiram em 10 segundos, 5 piscadelas, 3 contrações pupilares e 14 movimentos de respiração, tão rápidos estavam seus pulmões, buscando arejar o cérebro e também por um pouco de medo, que iriam ajudar aquele velho perdido.
Saíram dali ser dizer nada, foram até a casa dele, deixaram as malas na porta do quarto e voltaram ao encontro do velho, agora com o carro que ficara na garagem enquanto viajavam. Prontamente, sem ser necessário insistir contra a relutância que eles imaginaram que encontrariam, o velho entrou no veículo, e continuou mudo.
-Pra onde o senhor quer ir?
-Pro cemitério.
-Mora lá perto?
-Sim.
Seguiram pela cidade sem nenhum barulho além do rosnado reclamão do carro, como num protesto por ser levado para as ruas vazias àquela hora da noite. Apenas a comunicação muda entre os dois ocupantes dos bancos da frente.
Até que se aproximaram do destino
-De que lado do cemitério o senhor quer ficar?
-Tanto faz.
Queriam deixar o velhinho o mais perto possível de casa, sem que ele acabasse por se perder ou tivesse que atravessar toda a enorme quadra do cemitério, mas ele não colaborava. Iriam, então, deixá-lo no lado pelo qual alcançariam o muro do cemitério, dar meia volta e ir pra casa. Aquelas redondezas não era um bom lugar para ficar zanzando tão tarde, menos ainda com um carro tão ruidoso, que chamaria a atenção de possíveis sujeitos escondidos no cemitério esperando por uma oportunidade de assalto para comprar mais 'pedra', como eles sabiam que acontecia por ali.
-Mora com sua família? - perguntou a garota, tentando de alguma maneira fazer com que o homem chegasse seguro em casa.
-Não. Os ingratos dos meus filhos me enterraram num asilo. Moro sozinho agora. - Disse tudo numa disparada, uma enxurrada de palavras, e mais do que já havia dito até agora, com mais informações.
Não havia ninguém se quer para sentir sua ausência em casa e estivesse procurando pelo velho, que apesar da hora, ainda não chegara.
Assim fizeram, deixaram o incomum desconhecido pra trás e seguiram pra casa, dormir depois de uma longa viagem, que já nem parecia ter acontecido naquele mesmo dia. Mas não sem antes ouvir do velho quando já arrancavam ruidosamente com o automóvel
"Obrigado"
E uma expressão tranqüila e aliviada. Destoando de sua completa falta de reação desde que o encontraram ao acaso. Salvo quando mostrou uma ponta de chateação, reprimida numa frase apressada dizendo que morava só.

2 comentários:

Ana Carolina, disse...

Aham, morava sozinho né?
HÁ só se for no túmulo =P

Veremos o final =)

Ulisses disse...

uuuuh
sinshtro ae.. heahe

ta bacana, de verdade, quero ver o resto