24 de dez. de 2010

És o que tenho de suave

Era uma madrugada fria. Gelada. Mas da madrugada o que eu me lembro não é do frio, só de não querer sair do carro, de não querer chegar nunca, de que nem fosse preciso ir.
Amanheceu e continuava gelado, foi um desses dias que as extremidades endurecem e chegam a doer, mas doia mais por dentro, e minha vontade era sentar do lado de fora da casa, abraçar os joelhos, e congelar. Quando se tornava quase insuportável ficar dentro da casa, o clima atordoando a mente, mas nem por isso aquecendo o coração, não me deixavam sair pra respirar um ar um pouco mais leve, ainda que glacial, podia acabar ficando doente. Quem se importava?
O sol ia ficando mais forte com o desenrolar do dia e sentar sob seu calor derretia um pouco dos nervos que já enrijeciam. Mas não resolvia. Eu também queria ficar lá dentro, e passei o dia andando de um lado para o outro, como antes corria pela casa derrubando coisas.
Eu sempre achei que quando fosse chegando a hora, bateria o desespero, ficaria catatônica ou choraria alucinadamente. Foi um pouco aliador. Ficariamos só nós, poderia dormir, ainda que não tivesse sono, até porque esperar não resolveria nada. As coisas já estavam difíceis.
As vezes melhora, as vezes eu não quero que melhore, pra pelo menos manter clara e recente as últimas lembranças antes daquela madrugada fria. As vezes piora, quando não parece justo dizer isso pra quem sente o mesmo. E não é. Ou quando aparecem coisas do passado que eu nunca precisava saber. De um passado que vai ficando cada vez mais remoto, cada vez mais importante. Eu queria esquecer pelo menos esse dia, o frio, o desnorteamento, mas nem são essas as memórias mais doidas. O difícil é querer alimentar lembranças que fazem tão mal por serem lembranças. As mais antigas e as, ainda, mais recentes.








O natal mais triste.

És o que tenho de suave, e me fazes tão mal

26 de nov. de 2010

Eu sou chata

Sou meio que uma contradição, porque ao mesmo tempo que amo conversar, eu detesto…conversar. Na verdade, o que eu detesto é ter que conversar, o que torna tudo totalmente diferente. Quando isso acontece, faço questão de parecer o mais chato possível, pra ver se assim consigo que a pessoa me ache insuportável e nunca mais queira falar comigo.

Agora, com aqueles que me sinto à vontade, eu amo conversar, sobre qualquer coisa, contar histórias, discutir a Teoria da Relatividade (mesmo conhecendo o mesmo do assunto que uma lontra conhece sobre construir submarinos), contar piadas ou abrir meu coração. Conversar, bater papo, sabe?



Eu dou risada muito fácil, e muito alto, mas detesto distribuir sorrisinhos amarelos pra gente que não gosta de mim. Eu também não gosto delas. sacou?
Tem gente se incomodando por eu ser anti social, não puxar assunto e minutos depois não calar a boca falando com outras pessoas. Engraçado, eu não dou a mínima se me acham chata por isso. Eu sou chata.







Valeu Henrique, era exatamente isso que eu queria dizer, mas como no seu blog era bonito e para as pessoas com quem você gosta de conversar lerem, eu fiz uma conclusão ^^

12 de nov. de 2010

Eu odeio primavera!

É, odeio mesmo. Essa conversa de estação mais bonita do ano não tá com nada.
Na primavera eu teimo pra não dormir de janela aberta, apesar do calor que começa a invadir as madrugadas. É que junto com a brisa, há uma revoada exagerada de insetos, e entre eles a mais temida e pavorosa barata, que na tão famigerada época de renascimento e renovação saiu do sono profundo do inverno e alveja as janelas abertas durante a noite.
Por mim podia fazer frio o ano todo. Nem esse sol escaldante me serve pra muita coisa boa, não numa cidade que quase não tem árvores nas ruas, longe da praia ou sem piscina.
Primavera, florzinha, borboletinha voando eu deixo com os românticos. Eu só sinto pernilongos beliscando meus tornozelos, escuto o canto horripilante da cigarra torcendo pra não cruzar com uma no meu caminho e passo calor durante a noite.
Eu tive um amigo romântico, daqueles no extremo, bem típico. doente. Ele amava perdidamente pessoas que ele mal conhecia, mas na mente dele a amada já tinha um perfil formado, e era perfeita. De um dia pro outro ele desapaixonava, e já amava outra, com a mesma rapidez que desamou e talvez até por conta do novo amor. Era um ciclo de idealizações. Não posso dizer que ele deixava de gostar de alguma quando ela se apaixonava também e os dois enfim se conheciam, nunca vi ele ser correspondido, coitado.
Pra tentar ver com clareza o que acontecia em volta, eu procurei, cavei defeitinho do falecido que tanto amava, por mais que tudo que me surgisse na mente fossem coisas lindas. Duvidei do que eu já não acreditava, por mais que fosse um bom consolo, pra não me perder de mim mesma, no meio das minhas próprias ilusões confortadoras.
E no final, não faz tanta diferença o que eu acredito, as coisas são ou não, e eu nunca vou saber. Só queria conseguir confiar que existe um bom lugar depois de tudo.
Deixo as flores com os românticos.
Eu prefiro os ipês, dos roxos, que florecem no inverno, exibindo vitalidade depois do outono.

7 de nov. de 2010

Final de semestre




Eu fiz o desenho assim assim que acabaram as provas do bimestre passado. Desenhar na semana de provas é pecado.

26 de out. de 2010

Um sábio falou pra Maria...

-Olha, essa coisa de se apaixonar e se relacionar, é normal. Não pense que vai mudar ou melhorar com o passar dos anos, não, viu? Vai ser seeeeempre a mesma coisa. Seeeeempre daquele jeito. Vai ser como se fosse a primeira vez, todas as vezes. E é assim que é. Mas o problema mesmo de ter alguém, é a forma com que você o ''possui''. Tente entender. Você já teve um gato, não teve? E um passarinho? Sim. Pois é, qual dos dois ficava na gaiola? E qual dos dois vivia livre, e passava a maior parte do tempo com você, em seus braços? Gostar de alguém é mais ou menos como criar um gato, e nunca um passarinho. Não coloca numa gaiola, não prende, não impõe convivência, que isso é uma merda. O passarinho até fica ali na gaiola, comendo do teu alpiste e bebendo da tua água. Mas o pensamento dele está nos ares, nas florestas, nas passarinhas que ele perde de conhecer, e assim que ele tiver uma chance, quando você vacilar com a gaiola, ELE VAI VOAR PRA LONGE, BEM LONGE DE VOCÊ. E ele não volta não, viu? Mas veja o gato. No começo, ele vai querer conhecer todos os cantos, e ficar distante. Ai você dá um leitinho, uns biscoitos, um carinho.. e ele começa a vir todas as manhãs pra perto de você. Gato é um bicho difícil de conquistar, tipo gente. Mas no final é basicamente isso: eles não precisam de muito para se sentirem necessários e necessitarem também. Quando você menos nota, ele não sai mais de perto. E nem precisou de gaiola, entendeu? Pois é, é mais ou menos isso aí..

Pois é, disseram pra Maria...
Eu conheço o blog da Maria por causa do blog do Henrique.

17 de out. de 2010

Vou tentar manter o coração aberto pra você

Eu não sei se devo chegar dando um beijo e um abraço apertado, e simplesmente agradecer, por tudo que nós somos, por ser relativamente fácil, e tão natural o gostar.
Pelo diálogo e paciência.
Ou se eu não quero fazer parte disso, dessas preocupações e irritações, ter que aprender a conviver com outro gênio, com outras convicções, com outros preconceitos e certezas.
Nos momentos de silêncio que corroem toda aquela espontaneidade.
Eu não sei se é fantástico e diferente, ou se assim sempre parece, e por fim, os problemas se repetem.
Se eu recebi o presente divino de amar alguém tão bom, ou se também eu me apaixonei por sua bondade.
Eu sei que eu amo mais do que fico brava com certas coisas.



Não basta que o outro tenha as qualidades que você admira, é preciso que tenha os defeitos que somos capazes de suportar. E ainda admirar as qualidades, sem isso, há apenas uma amizade sem contemplação. Sem defeitos particularmente toleráveis, há um desamor a si próprio. Mas essa é a maneira de algumas pessoas amarem o outro.


"Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila."
Quando o amor vacila - Maria Bethânia


9 de out. de 2010

Querido diabo,

Hoje eu comecei o dia perdendo o ônibus por um beijo, mas só porque eu sou tonta e incrivelmente distraída.
Depois perdi o celular no ônibus, não o mesmo que eu já havia perdido, outro, outro ônibus. Ainda bem que alguém teve pena da pessoa tonta que deixou o telefone no banco e entregou para o cobrador, e ainda bem que o cobrador me devolveu. Depois disso me vesti de mãe de santo açougueira e sai na rua feito uma tonta de branco e jaleco na bolsa, já que é proíbido carregar jaleco na mão, a toa, porque não tinha nada pra eu fazer na clínica.
Pra acabar o dia bem, meu amado namorado passou mal com a comida que eu fiz.
Obrigado Deus, por eu ter um namorado tão paciente e querido, por estar na faculdade e poder bancar os caros custos investimentos que esse curso me faz ter. Ah, e por eu ter comida pra fazer pro meu namorado, coitado.
Mas que ser humano acerta um jornal dentro do próprio globo ocular, sem o reflexo automático de fechar as pálpebras?

10 de ago. de 2010

Só enquanto eu respirar


Vou me lembrar de você!
enquanto eu respirar.

17 de jul. de 2010

Que seja doce.

Eu não preciso de um anel,
preciso da sua mão.
Não preciso de sobremesa
mas prefiro antes do almoço.
Prefiro café, sem nadinha de leite,
e sempre fresco, feito na hora
mas não muito cedo, que é pra não ter que pular da cama
Gosto dos ipês, floridos
prefiro os roxos,
que tingem de cor alegre os céus cinzas do inverno
tinhoso e chorão
Dos amarelos, prefiro a música
que valeu um raio de sol pela intenção amorosa
num sorriso sincero
que qualquer surpresa planejada jamais conseguiria
Não gosto de amarelo
prefiro azul
de verde, só o caderno
e as folhas do ipê que caem para dar lugar às flores
na árvore que fica com seus ares sinistros e provocantes de galhos desnudos
provida apenas de suas atraentes pétalas
incapaz de alimentar mais de um elemento
Já preferi o frio
já o calor, um dia não me incomodou
hoje, prefiro o cobertor.
Sou como criança
que segura a linha do balão de gás com toda a força que tem
que não confia no laço feito em torno do pulso
Eu gosto de margem de erro
que é pra usá-la a meu favor
sem levar tudo até as últimas consequências,
desde que eu esteja certa,
é claro
eu gosto de estar certa




“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”

Caio Fernando Abreu

23 de jun. de 2010

Falanges

-A vida é muito cruel - Disse como uma constatação dramática, de quem procura discordância.
-Já está acabando - Tentou consolar, num tom amigável, com um gosto de fim de viagem longa.
-O que, a vida? - Encenou um espanto afetado
-Não, boba, essa dor.
-Ah... - Fingidamente desolada pela explicação óbvia do que ele quis dizer.
É, a vida. Ou praticamente isso. Mas preferiu não dizer.


Talvez seja melhor que ela continue. A vida é cruel, não apenas essa dor.
Às vezes tenho a impressão de que ao longo da vida temos uma meta mínima de sofrimento a cumprir. Alguns excedem a cota, outros tentam engana-la fingindo que a vida pode ser sempre feliz. Talvez também haja uma meta mínima de felicidade, algumas pessoas a ultrapassam sem esforço, outras apenas a cumprem por um forçar do ciclo vital, com essas felicidades que o sofrimento natural insistem em diluir, ou que esses não apreciam tanto quanto a dor. Acontece.
Talvez seja melhor que ela continue. A dor. Se ela fizer parte do meu mínimo sofrimento inevitável, o que pode acontecer depois que essa dor passar? Pelo menos é algo fisicamente tolerável, por enquanto. Mas se passar ou eu me acostumar, como faz a vida pra dar conta dos pontos do sofrimento?
Quer dizer, eu não acho que já tenha sofrido o suficiente por uma vida, para só ter ventos bons soprando de agora em diante. Pelo contrário, tudo anda bem, administravelmente bem.
Pode ser que a cota seja anual, ou por período da vida, sofrer bastante antes não te impede de sofrer depois. Ou ainda ,a pontuação de cada acontecimento varia de acordo com a nossa impressão dele, se foi muito triste, se foi muito feliz.
Sei que eu tenho medo do que pode vir estragar tudo isso.


Estou com cãibras de tanto me segurar no fio da vida, tentando não me perder na loucura.

11 de jun. de 2010

Anatomia

Bem vindos ao departamento de anatomia humana.
É aqui onde estão os cadáveres, usados para estudo e formação acadêmica de profissionais, e portanto merecem respeito, não brinquem com as peças nem chamem-os de 'presuntão', eles não gostam. Nem vocês vão gostar de lembrar dos corpos quando estiverem almoçando uma carne cozida ou comendo um presunto.
Existem três formas de chegar cadáveres para o departamento, indigentes do IML, que, se não forem reconhecidos por alguém da família são doados às universidades; por doação em vida, quando a pessoa registra num documento que deseja que seu corpo seja usado para estudo depois da morte, porém a família precisa concordar com a doação quando a pessoa vier a óbito; e a terceira maneira, alunos bagunceiros que vem ao laboratório brincar e tirar foto dos cadáveres. ah, é proibido fotografar.
Não precisam ter medo, lá não tem nenhuma alma viva além de nós. Os guardas que fazem a ronda noturna desse departamento já disseram que no meio da madrugada as luzes se acendem e os corpos fazem um forró todas as quartas, mas nunca foi relatado nenhuma festa durante a manhã, então não teremos transtornos. Quase não temos corpos femininos aqui, a maioria são de homens. As meninas que quiserem vir ao forró hoje a noite estão convidadas, mas só é permitido entrada de pessoas mortas.
O formol usado na concervação é muito volátil e tem cheiro forte, pode fazer arder o nariz e os olhos, quem se sentir mal, fique à vontade para seir e respirar um pouco de ar puro.

Podemos descer ao laboratório.



baseado em fatos imaginários
hahahah

13 de mai. de 2010

Começos [Framentos]

"Eu sei que você vê tudo o que eu faço
Eu sei que você lê tudo o que escrevo
Escrevo pra você"
Estrelas- Ludov

O caminho para decepção começa quando o subconsciente cria expectativas
então, se tudo não passar de um sonho bom,
já é tarde.
O dia já amanheceu e o tempo voou
O difícil não é dormir sozinha,
é acordar comigo mesma
com meu eu ainda dentro de mim
latejando
pedindo que se fechem os espaços que eu mesma abro
pra te colocar num lugar da minha vida que você não cabe.
antigas certezas que me deixavam deitar e dormir tranquila
e você chega de repente
pra me roubar do meu mundo seguro
e me levar pros sonhos acordados
pra me fazer perder o sono com o coração palpitando acelerado.
Agora eu sonho, mas não durmo,
tenho medo de acordar.
Meu mundo girou 360 graus,
estou de novo de ponta cabeça,
de novo sinto os ventos que um dia me trouxeram pra cá
ao mundo do medo, incertezas
perfumes, desculpas, beijos
meios.
Pra recomeçar a incansável busca por si mesmo.
No outro.


Esse texto não tem data, foi escrito em partes, em qualquer pedaço de papel, em dias de muita confusão sentimental.
Mas deve ser de maio/2009, se bem me lembro. Juntei vários trechos de palavras escritas quase soltas em uma mesma semana e amontoei como pude. Naqueles dias eu só precisava escrever, tirar da mente pra tentar explicar pra mim mesma. Ficaram pequenos pseudo textos repetitivos e confusos.

6 de mai. de 2010

Adeus. [Fragmentos]

Não quero que veja isso como um abandono, mas eu preciso ir. Encontrará os armários vazios, e desculpe pela carta em cima da mesa, mas foi a única maneira que encontrei... Pode encarar como covardia, porque é, eu realmente não suportaria falar olhando nos seus olhos. Talvez signifique que deveria desistir, mas é melhor. Só não quero que veja como desconsideração, muito pelo contrário. Eu apenas tenho q ir. O problema não é você. Nem eu. Eu apenas não posso ficar. Não, não pense que me desfaço dos laços da escova de dentes no armário porque quero sentir-me mais livre, essa liberdade solitária me amedronta e me esvazia. Mas quando apertar o tubo de pasta de dentes no meio e ‘cavocar’ o pote de margarina se tornam brigas está na hora de ir. Talvez eu não consiga qualquer tipo de relação duradoura e cotidiana sem estes espinhos, mas também não posso deixar que coisas tão bobas acabem com a nossa. A convivência nos irritou e tudo caminha para o trágico, prefiro ir agora e ter na mente sua expressão serena e amigável dormindo ao meu lado na ultima noite. Eu estou indo, prefiro mesmo abandonar a ver apodrecer em minhas mãos. Mesmo que isso deixe mais lacunas do que apenas as desavenças. Nos vemos aos finais de semana, daqueles em que o tempo para matar a saudade parece pequeno, e por isso tão bem aproveitado, sem tempo para prestar atenção no pote de margarina, nem, tampouco, de deixar a escova de dentes no banheiro. E já tenho que ir. Não vou substituí-lo, quando puder aceitar e celebrar a convivência, serás o primeiro apertador de pasta de dentes de quem me lembrarei.


Quem tentou adivinhar, errou.
Esse texto data do dia 02/04/2009, ainda do primeiro volume do Caderno Verde. Por enquanto vou coletar coisas que foram escritas antes e que eu julgue interessantes, pertinentes ao momento ou não, sobre acontecimentos específicos ou não. enfim, Fragmentos.


Quem sabe eu atualize mais vezes desse jeito

29 de abr. de 2010

A última estrela

Hoje eu não vou falar de lua, nem de estrela..
nem de cetim, nem de vela.
sem finais de semana fantásticos esperando ansioso por começar
Aliás, eu nem estou ansiosa, eu deito na cama e durmo quase imediatamente, não fico por horas pensando, planejando, com o coração pulando acelerado, como uma criança na véspera do natal.
Não vou dizer que eu tenho um segredo, nem que ele fica coçando minha garganta, fazendo aquela mesma cócega incômoda de quando passo de leve o dedo nos teus lábios, ou aquele roçar acidental dos cílios na pele do pescoço, causando um arrepio estranho. É isso que esse segredo faz comigo. Te provocar mostrando que estou escondendo algo é só um jeito de amenizar, eu sei que você não quer que eu conte e estrague tudo.
Não vou falar do vaga lume. Nem do meu plano perfeito pra surpresa mágica de quinta-feira que foi interferido.
Surpresa e afeto tem dia da semana pra acontecer?
Hoje eu não vou falar de novo desse brilho bonito dos meus dias, desse frio gélido e mágico. Se quer vou comparar ao clima desses mesmos dias do ano passado.
Hoje eu vim aqui só falar das músicas q vc fez eu gostar de ficar ouvindo repetidamente.
Dessa melodia alegre, simples e tão tranquila. Pelo menos me soa assim ao coração.
Mas hoje eu não vim falar de coração.


LUDOV

adorei essas musicas que grudam na cabeça pra ficar cantarolando a tarde toda sem saber a letra =)

e a música da noite

16 de mar. de 2010

A pedra na janela

"E só o que lhe peço em troca
é que você seja um amante fiel e verdadeiro,
pois o Amor é mais sábio que a Filosofia,
embora ela seja sábia,
e mais poderoso que o Poder,
embora este seja poderoso.
(...)
Seus lábios são doces como o mel,
seu hálito como o incenso."
O Rouxinol e a Rosa- Oscar Wilde



Milhares de coisas invadindo a mente. Uma noite sem lua lá fora.
Literalmente. Além da falta de luz aqui dentro.
Dentro, bem no fundo.
Voando com a brisa que entra pela janela
as lembranças suadas das noites quentes, dias atrás
daquelas noites eternas em que adormecer era tão mais fácil
tão leve, quase natural, não fosse a insistência em manter os olhos abertos,
em lutar contra o que tentava me tirar de você por longas horas.
Enquanto dormia, a vida passava pela janela
pra longe daquele universo paralelo,
em direção a lua que brilhava imponente,
mas a gente nem notava,
nem olhava, poderia ela explodir em borboletas prateadas,
eu só as sentiria no estômago.
Enquanto eu te esperava voou uma pedra na minha janela,
o coração palpitando acelerado,
antes pelo receio do incerto,
depois pela emoção da compreensão.
Era impossível resistir a imensa vontade de te abraçar,
apertado, que era pro perigo e medo não me alcançarem,
o medo daquela pedra;
que era pra sentir a intenção apaixonada do seu sorriso bobo
do outro lado da janela.
Saudades daquela lua.




"Antes de você minha vida era uma noite sem lua.
Muito escura, mas havia estrelas... Pontos de luz e razão...
E depois você atravessou no céu como um meteoro.
De repente tudo estava em chamas; havia brilho, havia beleza.
Quando você se foi, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro.
Nada mudou, mas meus olhos ficaram cegos pela luz.
Não pude mais ver as estrelas. E não havia mais razão para nada."
Eu perdi a razão que me restava.
Lua Nova -pág. 366- Sthefanie Meyer


PS. não achou que eu deixaria esse fato passar em branco, depois de tamanho susto, não é?!

24 de fev. de 2010

Amanhecer

É quando tudo faz sentido. Quando as coisas mudam de valor. As velhas preocupações são ofuscadas pela luz do novo sol; As alegrias fantásticas brilham ao reflexo da luz.
A luz ainda não ofusca e faz os olhos arderem, mas se deixa encarar.
A brisa leve tem cheiro, som e sabor de manhã.
Da manhã que pode ser duas.
A manhã depois da noite. A despedida.
Despida de forças a noite se entrega.
A manhã que começa o dia. O recomeço.
Depois do breve momento em que o dia ainda não faz sentido, ele começa.
Começa e acaba, mais uma vez.
Espera pelo próximo dia, que o meu começa agora. De noite.
Vestida de luz, à noite se entrega.
Quando afaga meus cabelos e acaricia meus pensamentos.
Quando me olha nos olhos e sinto sua retina puxar a minha, cada vez pra mais perto, numa atração explosiva que me mantém na inércia de querer só continuar te olhando.
Quando me pega pela mão e guia meus passos, à mercê do seu caminho, pelo simples prazer de andar com você.
Quando me pega no colo, abraça apertado e de repente parece que nada no mundo vai conseguir me alcançar.
Essas lágrimas pateticamente desesperadas que insistem em cair de vez em quando, suplicando que continuemos juntos, inundando e salgando o coração e o paladar de uma maneira tão estranha que só a doçura do seu beijo e do som da sua voz emocionada pode quebrar.
Diz que fica. Só até amanhã de manhã. Amanhã.

9 de fev. de 2010

Queijo com Goiabada.

sobre Romeu e Julieta

"- Sabe, nunca tive muita paciência com Romeu – comentou ele enquanto o filme começava.
- O que há de errado com Romeu? – perguntei, meio ofendida. Romeu era um dos meus personagens de ficção preferidos.
- Bem , antes de tudo, ele está apaixonado por essa Rosalina... Não acha que isso o deixa meio volúvel? E então, minutos depois do casamento, ele mata o primo de Julieta. Não é muito inteligente. Um erro depois do outro. Será que ele poderia destruir a própria felicidade de uma forma mais completa?


(...)
(...)


Em vez de me mexer, pensei mais um pouco em Julieta.
Imaginei o que ela teria feito se Romeu a deixasse, não porque fosse proibido, mas por perder o interesse. E se Rosalina lhe tivesse dado atenção e ele mudasse de idéia? E se, em vez de se casar com Julieta, ele simplesmente sumisse?
Pensei que sabia como Julieta se sentia.
Ela não voltaria para sua antiga vida, não mesmo. Não teria sequer se mudado, disso eu tenho certeza. Mesmo que ela tivesse vivido até ficar velha e grisalha, cada vez que fechasse os olhos teria sido o rosto de Romeu que veria por trás das pálpebras. No fim das contas, já teria aceitado isso.
Imaginei se ela teria se casado com Páris no final, só para agradar aos pais, para manter a paz. Não, era provável que não, concluí. Por outro lado, a história não falava muito de Páris. Ele era só um estorvo – um substituto, uma ameaça, um prazo final para forçar a mão dela.
E se fosse mais do que isso?
E se Páris tivesse sido amigo de Julieta? Seu melhor amigo? E se ele fosse o único a quem ela pudesse fazer confidências sobre toda a história arrasadora com Romeu? A única pessoa que a entendia de verdade e a fazia se sentir quase humana de novo? E se ele fosse paciente e gentil? E se ele cuidasse dela? E se Julieta soubesse que não podia viver feliz sem ele? E se realmente a amasse e quisesse que ela fosse feliz?
E... E se ela amasse Páris? Não como Romeu. Nada disso, é claro. Mas o bastante para querer que ele também fosse feliz?
(...)
Se Romeu tivesse mesmo partido, para nunca mais voltar, teria feito diferença Julieta ter aceitado ou não a oferta de Páris? Talvez ela devesse ter tentado se adaptar aos pedaços de vida que restaram. Talvez fosse o mais perto que ela chegaria da felicidade.
Suspirei, depois gemi quando o suspiro arranhou minha garganta. Eu estava incluindo informações demais na história. Romeu não mudaria de idéia. É por isso que as pessoas ainda se lembravam do nome dele, sempre em par com o dela: Romeu e Julieta. Por isso era uma boa história. “Julieta leva um fora e fica com Páris” nunca teria sido um sucesso."


trecho do livro Lua Nova - Sthefanie Meyer




Escritores de sucesso são os que conseguem fazer obras com centenas de páginas que são devoradas em apenas alguns dias, por todos os tipos de leitores.
Bons escritores são os que olham a obra antes de aos leitores.
Bons leitores são os que conseguem ler livros complicados e difíceis e ainda absorver sua mensagem.

26 de jan. de 2010

O velho do ponto de ônibus 3/3

FIM*

É. Não tem final. Segui o conselho do Ulisses, o fim do texto fica em aberto. É o único jeito de não estragá-lo e manter o pouco de dignidade poética que este blog tem.

Mas, se quiser ler o final que eu preparei... Estou avisando, nem pesadelos você terá



Sinceramente, não foi com grande surpresa que ele constatou, no dia seguinte, vendo as notícias regionais pela internet, que o dono das antigas empresas de café da cidade morrera atropelado por um ônibus ao tentar sair sozinho do asilo para visitar seus filhos. A foto do velho estampando o canto reservado ao obituário. Mas foi com um frio na espinha que ele encaminhou a notícia a ela via e-mail.

24 de jan. de 2010

A mulher da estrada 2/3

Eles se entreolharam apreensivos, usando uma linguagem subverbal e ocular para que o velho não entendesse o que tentavam dizer apenas um para o outro, apesar de tal esforço não se aparentar necessário, pois o sujeito parecia não escutar suas palavras.
Decidiram em 10 segundos, 5 piscadelas, 3 contrações pupilares e 14 movimentos de respiração, tão rápidos estavam seus pulmões, buscando arejar o cérebro e também por um pouco de medo, que iriam ajudar aquele velho perdido.
Saíram dali ser dizer nada, foram até a casa dele, deixaram as malas na porta do quarto e voltaram ao encontro do velho, agora com o carro que ficara na garagem enquanto viajavam. Prontamente, sem ser necessário insistir contra a relutância que eles imaginaram que encontrariam, o velho entrou no veículo, e continuou mudo.
-Pra onde o senhor quer ir?
-Pro cemitério.
-Mora lá perto?
-Sim.
Seguiram pela cidade sem nenhum barulho além do rosnado reclamão do carro, como num protesto por ser levado para as ruas vazias àquela hora da noite. Apenas a comunicação muda entre os dois ocupantes dos bancos da frente.
Até que se aproximaram do destino
-De que lado do cemitério o senhor quer ficar?
-Tanto faz.
Queriam deixar o velhinho o mais perto possível de casa, sem que ele acabasse por se perder ou tivesse que atravessar toda a enorme quadra do cemitério, mas ele não colaborava. Iriam, então, deixá-lo no lado pelo qual alcançariam o muro do cemitério, dar meia volta e ir pra casa. Aquelas redondezas não era um bom lugar para ficar zanzando tão tarde, menos ainda com um carro tão ruidoso, que chamaria a atenção de possíveis sujeitos escondidos no cemitério esperando por uma oportunidade de assalto para comprar mais 'pedra', como eles sabiam que acontecia por ali.
-Mora com sua família? - perguntou a garota, tentando de alguma maneira fazer com que o homem chegasse seguro em casa.
-Não. Os ingratos dos meus filhos me enterraram num asilo. Moro sozinho agora. - Disse tudo numa disparada, uma enxurrada de palavras, e mais do que já havia dito até agora, com mais informações.
Não havia ninguém se quer para sentir sua ausência em casa e estivesse procurando pelo velho, que apesar da hora, ainda não chegara.
Assim fizeram, deixaram o incomum desconhecido pra trás e seguiram pra casa, dormir depois de uma longa viagem, que já nem parecia ter acontecido naquele mesmo dia. Mas não sem antes ouvir do velho quando já arrancavam ruidosamente com o automóvel
"Obrigado"
E uma expressão tranqüila e aliviada. Destoando de sua completa falta de reação desde que o encontraram ao acaso. Salvo quando mostrou uma ponta de chateação, reprimida numa frase apressada dizendo que morava só.

22 de jan. de 2010

A loira do banheiro 1/3

Era noite de domingo, na verdade, já eram os primeiros minutos da segunda-feira, quando eles chegaram de volta à cidade depois do fim de semana na casa dos pais dela. Passaram no apartamento dela deixar suas malas e trocá-las por apenas uma bolsa com roupas pra passar uma noite fora, e seguiram de ônibus pra casa dele.
Soprava uma brisa gélida devido à garoa fina que caia, destoando das tipicamente quentes e abafadas noites de verão, apesar disso, ela saiu de casa usando um vestido leve, e por distração e um pouco de pressa, esqueceram o guarda-chuva sem tempo para subir de volta ao apartamento pega-lo. A chuva esfriava, mas não molhava, e no caminho até o ponto de ônibus apenas umideceram os cabelos e salpicaram a pele de gotinhas, que foram secas com as mãos um do outro.
Subiram na última linha, do último horário, dos ônibus daquela noite, e seguiram todo o caminho sozinhos, na companhia um do outro, do motorista e do cobrador da condução.
Quando desembarcaram, já em outro canto da cidade, viram sentado no banco da parada um velhinho, em trajes sociais como se fosse a uma quermesse de domingo, vestindo colete, paletó e chapéu.
O velho parecia uma alma perdida, parecia que havia perdido a alma, não apresentava reações, nem expressões, parecia alheio ao banco no qual estava sentado, alheio à hora que já marcava o relógio, que a julgar pelas suas vestes, ele carregaria no bolso, pendurado por um lindo cordão de prata.
Aproximaram-se, o homem continuava inerte. Quando já estavam bem perto e apreensivos de curiosidade e receio daquele sujeito estranho, ele reagiu, e num movimento repentino tocou o braço da garota
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela olhou apreensiva para o companheiro, que respondeu
-só de manhã, acabou de passar o ônibus do último horário.
O velho desta vez segurou a mão dela
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela sentiu-se incomodada e assustada, não gostava que estranhos a tocassem, e o comportamento bizarro desse estranho não melhorava a sensação.
-acabou de passar o último. Outro só de manhã.
-Pra onde o senhor vai?- perguntou o rapaz.
O intrigante desconhecido olhou pra ele, virou-se com calma soltando a mão da menina, e com ar de quem acabava de notar a presença da outra figura o fitou por breves segundos.
-Quero ir pra embora.
-Onde fica sua casa?
Silêncio seprucal. O velho abstraiu a pergunta e refletiu alto
-Precisava de um ônibus que me levasse embora.

17 de jan. de 2010

dias de chuva, dias de sol

Preciso escrever, mas esqueci o caderno verde em casa.
Como eu venho esquecendo tudo, a fonte do laptop, o celular, o guarda-chuva, esqueci o leque pra não passar calor naquelas salas de espera apertadas. Saí pagar a prestação da loja de calçados e esqueci o boleto em casa, não teve jeito, tive que voltar, e tornar a ir, tomando chuva na cabeça. Esqueci as fotos que devia ter trazido pra pregar nessa parede, esqueci o livro que tenho q ler antes que as aulas recomecem.
Esqueço os óculos para dirigir, até do capacete já esqueci. Mas não tiro as malditas lentes da cara quando entro no banho ou na hora dormir, e acordo com a textura da armação marcada nos lados do rosto.
Queria entender, mas esqueci o equilibrio na mochila dele.
E essas letras que insistem em trocar de lugar e se confundirem. O que há com minhas mãos ou quem sabe com a minha mente, que não me deixam perceber que estou escrevendo as palavras todas erradas nesse droga de computador.
Esses sonhos cotidianos que insistem em me tirar o sono, em me lembrar que a conta de telefone ainda não foi paga, ou o medo de que certas coisas aconteçam.
A vontade de mudar o jeito acomodado de fazer as coisas, e a acomodação que deixa isso tão dificil.
E esse jeito de não conseguir evitar tanta distração, de por vezes achar melhor não se preocupar tanto com tudo, mas o tempo todo ter tudo pendente porque não me preocupei quando deveria.
Odeio epifanias. Odeio ver que eu não sei viver assim, tão por conta própria, que quando eu mais pensava ter autonomia da minha própria vida, era quando eu mais me perdia. Nos outros e em mim mesma. E me escondia de mim, em mim.
Odeio as fotos de novembro passado e tudo que elas me lembram. Por que elas não me lembram novembro passado, me lembram hoje, ontem, semana passada, e todos os dias dormindo no sofá da sala.
São tantas coisas pra organizar. São tantas coisas que não precisam ser organizadas, basta serem feitas, mas bagunçam tanto minha cabeça que depois delas tudo tem de se arrumar novamente.
Odeio ter tantas coisas pendetes.
Vou fazer como a Carol, vou correr, nisso já resolvo dois problemas. Fugir de mim por um tempo, e as fotos de novembro passado.

4 de jan. de 2010

No começo do ano que já dava seu adeus final... 3/3

No começo do ano que agora já dava seu adeus final, pretendia não mudar o que dera certo no ano anterior, e aprimorar o restante.
Analisando bem, fez exatamente o contrário.
Ao que julgava bem sucedido, acomodou-se e esvaiu. O que imaginava desnecessário surgiu de repente e mostrou-se indispensável. E o impensável brotou de suas escolhas mal feitas.
Nem todas as mudanças foram boas, nem todas más. Nem todas as edificações foram planejadas, nem todas as pretendidas se realizaram.
Mas olhou para trás e viu que mudou enfim.
E continuava a fazer o que o papel pedia, talvez até mandasse, Feliz. E isso é o que importa.
Não faria lista de pretensões de ano novo, o ‘ano novo’ acaba com a velocidade da luz dos fogos artifício do primeiro dia do ano.
Para o próximo ano, Ser Feliz! Todos os 365 dias do ano, mesmo que para contribuir com isso tenha que realizar alguns dos antigos itens das antigas listinhas.

Um ano de pseudo atividade e devaneios esporádicos neste endereço
Obrigado a todos e qualquer um que passou por aqui.
E aos que fizeram parte de 2009, que deram rumo a ele e estão intrísecos no texto, agradeço pessoalmente.
Nos vemos este ano.

Um beijo pra minha mãe, pro meu namorado, e especialmente pra xuxa e pra xaxa

Perfil 'Quem sou eu" escrito para este texto.